“A nossa vida é uma coleção de saudades.“
Projota rapper
Refletindo com serenidade.
Saudade descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor.
“Tenho saudade da minha mãe, de você, dos bons tempos”.
“Quando terminar a pandemia, vou matar todas as minhas saudades”.
Essa última frase nos leva a refletir como será o Brasil após o covid-19.
Dizem os mais apressados que nada será como antes. Será uma nova sociedade. Até que não terá mais torcida nos esportes. Todas as pessoas passarão a viver de maneira diferente. Não haverá mais contato físico. Nota-se isso nas matérias que pululam na mídia. Estamos passando de uma pandemia de saúde para uma pandemia mental. A mídia se aproveita disso para criar e manter audiências incrivelmente assustadas e, consequentemente, cativas com cada vez mais campanhas espetaculosas. Tudo acontece por causa do coronavírus.
Para usar exemplos esportivos, que é a minha área no marketing, podemos comparar o noticiário sobre o covid-19 com o futebol em tempos de Copa do Mundo. “Se o Brasil perder, a pátria do futebol morre”, “A derrota do Brasil vai trazer o caos para o Brasil”, “Quem nomeou esse técnico é corrupto”, “Quem fez essa convocação é burro”. Centenas de milhares de manchetes e títulos de matérias como essas são publicados a todo o momento, durante o período todo. As tais das “mesas redondas”, com ditos especialistas, deitam e rolam. A mídia cria campanhas com opiniões extremadas. Só são entrevistados os que concordam. Nunca se sabe com que propósitos. Seja para valorizar ou desvalorizar atletas, técnicos, cartolas. Os políticos, como sempre se aproveitam.
Numa dessas Copas que o Brasil perdeu, fui entrevistado por um jornalista que queria saber, após a “humilhante” derrota, o que seria do futebol brasileiro.
Não vai acontecer nada, respondi. Imediatamente após a Copa, reiniciam os campeonatos de clubes e tudo volta a ser como antes da “Pandemia da Copa”.
Assim penso sobre a pandemia do coronavírus. Muitos, com certeza vão achar que não se pode comparar. Talvez como tragédia não. Mas como comportamental é absolutamente igual.
A saudade dos bons tempos, das visitas familiares, das festas de aniversário com bolo e velinha, do Fla-Flu, do Corinthians vs São Paulo, do Bahia x Vitória, do happy-hour, tudo continuará como antes. Ou até amplificado pelo sentimento de saudade. Nota-se pelo comportamento da população na reabertura de alguns shoppings. Nunca se viu supermercados tão cheios como estão neste momento. Talvez o homework deva crescer um pouco. A busca por empregos também. O transporte público continuará ruim. As ruas esburacadas. O atendimento público da saúde seguirá ineficiente. Tudo voltará a ser como antes.
José Estevão Cocco
josecocco@jcocco.com.br
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